A propósito da Gripe A e das práticas que a prevenção da sua difusão impõem, inclusive na celebração eucarística, como seja a de receber a hóstia em mão, instado, na televisão, um jovem a pronunciar-se sobre o seu próprio costume de a receber na boca, respondeu:
- Eu não, não tenho medo, eu tenho fé!
Ao ouvi-lo, ia dando, apesar de doente, um salto no sofá, esperneei seguramente, e não lhe contive um impropério que aqui não vou repetir ...
Mas este é, convenhamos, o retrato de uma certa igreja emersa em lugares comuns e crendices justificativos do injustificável.
Esses lugares comuns rezam, esquematicamente, assim:
Eu tenho fé e a fé move montanhas;
Se as não mover é porque Deus me quer pôr à prova;
E posto à prova, basta que continue a ter fé, uma fé irrazoável, fanática Nele e que deixe que se cumpra, sem qualquer revisão de consciência ou de procedimentos, segundo a Sua vontade;
É o destino ...!
O eu, nestas circunstâncias, torna-se irrelevante, completamente submisso, irracional, supersticioso e incapaz de agir e muito menos com bom senso.
Deus é que sabe, quem sou eu (!?) e nada está nas minhas mãos!
Omnipotente, naquele sentido absolutista de tudo Dele depender, a mim não me resta senão entregar-me de mãos atadas, sem margem de autonomia ou responsabilidade acrescida que, no caso em apreço, perante o padre, os outros, a comunidade ou Deus devesse ter.
Este determinismo fanático, aviltante e irresponsável tem um nome:
Chama-se demissionismo pseudo-cristão já que Cristo, remando a contra-corrente e pondo em causa práticas fanáticas estabelecidas e irracionalmente perpetuadas que já no Seu tempo eram mal confundidas com a Fé, não desarmou e persistiu no Seu percurso feito de opções, vontade e autonomia e ao arrepio de todos os vendilhões do templo e crendeiros de um mal disfarçado medo.
A Fé ... não é nem irracional nem é estúpida e esse santo povinho que a entende assim, devia ser metido no seu lugar!
Afinal, não consegui, uma vez mais, conter o impropério ...
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 18 de Julho de 2009
5 comentários:
TOTENTANZ
Chama-se a peça sinfónica de Liszt que acompanha esta página, Totentanz que quer dizer dança da morte.
Achei-a oportuna não apenas por nunca ter editado nada de Liszt mas também por surgir como alegoria de tantos algozes sempre mortinhos, passo a expressão, a esmagarem-nos ao medo da morte sem qualquer arbítrio e maior irresponsabilidade ainda!
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 18 de Julho de 2009
Tolinhos ou uma questão de Fé?
Os jornalistas até adoram entrevistar pessoas tolinhas!
Aquele jovem é tão irresponsável como todos os outros cristãos ou não, que desenvolvem os seus mitos relativamente à gravidez não desejada, às doenças sexualmente transmíssiveis ou outras.
Também vá-se lá entender, porque é que o Vaticano condena o uso do preservativo para conter a transmissão da SIDA e está tão cooperante relativamente à gripe!
É que as autoridades de saúde têm poder para mandar fechar as igrejas e os seropositivos não.
E a seguir os fiéis baralham livre arbítrio com Fé...
Eu por mim bato palmas às novas orientações para as missas e tenho uma Fé inabalável em Deus!
Sempre achei uma enorme falta de higiene a mistura da hóstia com o cuspo e as mãos de toda a gente.
E quanto à Saudação da Paz, lindo gesto na sua essência, transformou-se num arraial em que todos se beijocam efusivamente no meio de uma enorme algazarra que dura vários minutos!
Saudar alguém pode ser um gesto contido e muito bonito.
Sendo assim, daqui vos saúdo contida e sentidamente desejando-vos um fim de semana pacífico.
Manuela Baptista
Jaime!
Completamente de acordo com o que escreveu!
Mandei-lhe de novo o mail...
Beijinho
Filomena
Eu chamo a isso ignorância. Beijos.
TOLICE, IGNORÂNCIA E FÉ
O problema é que existe todo um caldo cultural onde na invocação da Fé se abriga comodísticamente a tolice, a ignorância, a superstição, a crendice e esse caldo acaba por ser um pujante viveiro de irresponsabilidade individual e colectiva que tudo atrapalha, baralha, tolhe e confunde!
Esse é que é o problema que coloca a Igreja no dilema entre as trevas e a luz.
E por isso, não por causa do pobre diabo que fez tais afirmações (!), dissertei sobre o assunto.
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 18 de Julho de 2009
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