quinta-feira, 9 de julho de 2009

DIMENSÃO ANTI-VIRAL PREVENTIVA DA PALAVRA

Diz um dicionário comum da língua portuguesa sobre vírus:
Microrganismo invisível que atravessa os filtros que retêm habitualmente as bactérias, possuindo um só tipo de ácido nucleico A.R.N. ou A.D.N., e parasita obrigatório das células eucariotas // Figurativamente é princípio de contágio moral // Na Informática é uma instrução ou uma série de instruções parasitas introduzidas num programa e susceptíveis de provocar diversas perturbações no funcionamento do computador.
Diz um dicionário comum da língua portuguesa sobre o conceito palavra:
Som articulado com uma significação // Vocábulo // Termo // Permissão de falar // Promessa verbal // Afirmação // Doutrina // Fala // Na informática é um elemento de informação armazenado ou tratado sem interrupção num computador, sinónimo de linguagem.
Pegando pois na acepção informática dos dois conceitos, poder-se-á dizer que aquilo que o vírus faz perturbar no acesso à informação a palavra, o som articulado significante ou a linguagem, à perturbação ou interrupção em causa neutralizam reestabelecendo os circuitos que à informação nos permitem fazer aceder sem qualquer perturbação.
Por seu lado, figurativamente, aquilo que é, pelo vírus, moralmente contagiado permite ser, pela palavra e nas acepções correntes enunciadas, neutralizado e tanto mais quanto afirmativas e articuladas, significantes em doutrina as palavras o forem.
Já do ponto de vista da definição biológica de vírus, a ela se contrapõe, insisto, a dimensão anti-viral, preventiva da palavra como princípio, quando significante, não moralmente contagiado.
Moralmente contagiado ...
Em que consiste tal!?
O alarmismo é contagiante;
O boato não menos o é;
O ruído, o excesso não discriminado de informação, ele também pode neutralizar-nos ao ponto de sermos incapazes de tomar as mais acertadas e assertivas decisões e neste sentido a palavra, pode, ela mesma, tornar-se, pelo seu emprego leviano, não significante, sem critério, num vírus.
Daí e perante pandemias como aquela que globalmente, a todos porque disseminada já por toda a parte ou não fora pandemia, nos afecta eu frisar a importância de dar-se soberania àquilo que as autoridades de saúde pública nos têm para dizer já que elas são portadoras daquilo que o conhecimento científico, doutrinário, estruturado e significante de mais rigoroso e fiável nos tem para comunicar e não a outras fontes e sublinhar ainda a importância da dimensão Política, porque ela existe sempre e em tudo e também no ataque à pandemia da gripe A, ao vírus H1N1.
E a dimensão Política do problema é, em si mesma, linguagem posta em perspectiva, palavra, doutrina geral, por demais significante!
Diz a doutrina que a liberdade de expressão e de circulação da informação são fundamentais em qualquer situação e nesta também.
O que nos sai pela boca dissuade, em princípio, impulsos irracionais e já aí a palavra cumpre a sua função preventiva, anti-viral em sentido lato e logo porque não é neutra e porque da discussão, da reflexão que gera e desencadeia, assim se deixem as pessoas tocar por ela (!), nasce, pode nascer a luz.
Diz a doutrina significante que interditar, tolher a liberdade de circulação, de movimentos ou excluir é, por demais, improcedente e eu subscrevo e sublinho por baixo.
Dê-se pois soberania ao que as autoridades de saúde pública nos têm para dizer pela palavra e não se faça o contrário daquilo que elas nos aconselhem.
Restrições, apenas aquelas que essas mesmas autoridades nos indiquem.
E o resto é contágio virulento que a própria palavra na leviandade do seu emprego não significante ajuda a disseminar e que pode, esse sim, ser fatal!
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 9 de Julho de 2009

8 comentários:

Jorge Castro (OrCa) disse...

Sem favor e sem esforço, cá venho...

Sabes que desenvolvo a minha actividade profissional na área da saúde e, nesta, da gestão? Pois, é verdade. Pelo que a informação me vai chegando, com regularidade dir-se-ia suiça.

O que considero elemento perturbante de todos estes embróglios é, exactamente, a fiabilidade da informação que nos é veiculada, mormente pelos órgãos de comunicação que, em matérias deste teor, não devem agir com leviandade ou ligeireza.

Tudo o que se refere a uma pandemia «à séria» etá nos antípodas da graçola ou, até, da informação menos cuidada. Ora, aquilo a que assistimos é a um chorrilho de informação dispersa, avulsa e mais ou menos sensacionalista que, entremeada com o (falso) pudor dos interesses estabelecidos, acaba por descredibilizar a informação idónea e responsável.

Na sociedade da informação em que vivemos - diz-se! - interessa saber quantas vítimas mortais estão contabilizadas; quais os escalões etários; se eram ou não já portadores de padecimentos que as fragilizavam; quais os índices de infectados locais (por transmissão directa em cada país) ou os infectados «viajantes»; qual a progressão da doença (geográfica e temporal); etc., etc., etc.

Ora, apenas se assiste, como digo acima, ao noticiário avulso, não científico e, as mais das vezes, alarmista, que vem a revelar-se sem fundamento.

Depois, sobrevém a história tão nossa conhecida do Pedro e do Lobo. E será, talvez, esse o meu maior receio.

Vê bem: escolher um destino turístico que está com baixa de preços por causa da incidência da gripe é ou não uma atitude, mais do que libertária, estúpida?

Grande abraço, com desculpas pela extensão.

jaime latino ferreira disse...

ORCA


Meu Caro,

Não tens nada que pedir desculpas pelo alongamento da tua prosa, és sempre bem vindo!

Eu nem sabia, calcula, que desenvolvias a tua actividade profissional na área da saúde ...!

Concerteza que essa coisa de escolher destinos turísticos só porque estão ao preço da uva mijona e sem nenhuma preocupação cidadã sobre o que daí, para a comunidade de origem pode resultar, tem muito que se lhe diga e o resto que escreves também.

Não tem nada de libertário, é irresponsável!

Mas, responde-me, pus ou não a tónica nos pontos certos, tónica essa que, aliás, alerta para o discernimento da informação de acordo com os critérios que no texto defino?

É exactamente pelo que tu invocas, para mais da perspectiva de quem está por dentro, que achei oportuno escrever o que escrevi e que, pelos vistos, vai ao encontro das tuas preocupações.

Tem ou não tem oportunidade tudo o que equacionei no meu texto?

Um Abraço,


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 10 de Julho de 2009

manuela baptista disse...

Foi preciso uma dimensão anti-viral da palavra, para termos entre nós um cavalheiro dos mares!

Comprovou-se a oportunidade da matéria.

A propósito, eu hoje estou farta de espirrar, talvez anule a minha viagenzinha ao México!

Manuela Baptista

Anónimo disse...

Meninos!

tenho andado tão vaidosa com as minhas borboletas do mundo da fantasia, que nem ligo à gripe A ou B.

Mas afinal, temos uma pandemia ou não?

Gripes em Julho são normais? Não me parece, mas também que importa isso, afinal hoje é sexta-feira!

Bem, lá vou eu olhar tipo basbaque para as minhas borboletas.


Beijinhos


Filomena

manuela baptista disse...

Querida Borboleta,

com pandemia ou sem ela eu acho que o melhor que temos a fazer é meter as palavras num sítio, os vírus num outro e as bactérias num terceiro!

O que é certo, é que hoje passámos a manhã e depois a tarde, em vários médicos por causa de várias bactérias que atacaram este lado Sul, ou seja os Mouros.

O Jaime está com febre, mas cheio de saudades dos Tertulianos e pede para eu enviar beijinhos a todos e especialmente à sua Madrinha de pixels e a toda a boa gente do Norte e também do Nordeste (brasileiro).

Beijinhos

Manuela Baptista

PS: é impressão minha ou as borboletas e as flores ontem voavam?

missy disse...

Manuela!

Daqui um abraço de rápidas melhoras para o Jaime!

Espero que não seja o primeiro a apanhar a malfadada gripe!

Ontem voavam, as borboletas?
Se calhar pararam com a minha basbaquice!
Sabe que há bocado queria mandar um comentário para o meu blogue e não conseguia e depois verifiquei que o dito me foi parar á caixa de correio?
Isto está muito confuso1 serão borboletas a mais?

Beijos e paciência, porque os homens quando estão doentes, Jesus!


Dê-lhe um beijinho da Madrinha


Filomena

manuela baptista disse...

Missy

Did I miss something?

Manuela Baptista

Anónimo disse...

Menina Manuela!

Antes de mais, como está o doentinho?
Não, a Menina não perdeu nada!
Aquele Missy é o meu blog experimental, o meu laboratório, percebe?
por exemplo, antes de transformar o " mundo da fantasia" fui para lá treinar.
Já criei e eliminei, ali, uns 15 blogs.
Eu tenho alma de cientista de blogs!

E o doente, já lhe passou a febre?

Quero vê-lo aqui a postar, a escrever. Enquanto o "lobo" não vem, aproveite a Manuela e conte uma das suas histórias de encantar.

Beijinhos



Filomena