XI- SONATA DE OUTONO
Celebrando:
- Höstsonaten- Sonata de Outono - 1978
-Realizador: Ingmar Bergman
- Chopin- Prelúdio op.28 nº2 interpretado por Cláudio Arrau
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Manuela Baptista
Estoril, 28 de Julho 2009
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MÃE E FILHA/AO ESPELHO
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Escolhem sempre a mesma mesa, num canto junto às enormes janelas, de frente uma para a outra. O mar ao lado.
A filha diz:
-Mamã está bem sentada? Veja se quer que eu lhe empurre mais a cadeira. Cuidado com a bengala, acabou de cair!
A mãe balbucia qualquer coisa, não refeita ainda de um mal recente. A filha não lhe dá tempo e continua o monólogo:
-Mamã vamos pedir peixe, é mais saudável. E a sopa está boa? Coma-a até ao fim, os legumes fazem-lhe bem. Olhe, cuidado! Limpe a boca antes que suje a blusa!
A mãe obedece. Desejaria explicar à filha que consegue puxar a cadeira para si, que sabe que a bengala caiu, que gostaria de comer o borrego com alecrim, que sentiu a sopa a escorrer, que chega perfeitamente ao guardanapo e que ouve bem tudo o que lhe diz.
A mãe olha para a filha e vê-se há trinta anos atrás. Ao espelho. Secretamente deseja que a filha se cale também e reflicta silenciosamente a sua imagem.
Deseja dizer-lhe que é demasiado parecida consigo, que não vale a pena dar-lhe tanta atenção, que fale mais baixo, que coma menos, que arranje um namorado, que olhe para além do m2 da sua existência.
Que o faça depressa, porque o tempo voa e ela não, e explicavelmente daqui a trinta anos não terá reflexo no espelho da sua vida.
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De "Instantes Com Mar Ao Fundo"- Sesimbra 2008
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Como dois espelhos em frente um do outro, vemo-nos ou não vemos nada?
Celebrando:
- Höstsonaten- Sonata de Outono - 1978
-Realizador: Ingmar Bergman
- Chopin- Prelúdio op.28 nº2 interpretado por Cláudio Arrau
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Manuela Baptista
Estoril, 28 de Julho 2009
12 comentários:
COMO DOIS ESPELHOS
Como dois espelhos em frente um do outro
vemo-nos e não vemos nada
vemos a anti-matéria disfarçada
a diferença entre ti
a cor amada
e o que de ti não vejo
nesta estrada
e essa diferença que há
é desejada
vontade de te amar
reencontrada
nesses teus contos de verão
minha adorada
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 28 de Julho de 2009
DIÁLOGO SURDO
Este diálogo surdo em Sonata de Outono de Bergman com Chopin em fundo contém uma tal violência sublimada pelos intérpretes que apenas a música legenda melhor do que as legendas propriamente ditas ...!
A dor torna-se, aqui, esmagadora e o diálogo, mais do que surdo é um monólogo arrasador.
Bravo, Minha Querida
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 28 de Julho de 2009
META_TUNA
Obrigado por nos seguir.
Sinta-se bem por aqui!
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 28 de Julho de 2009
Ao Jaime, ao Jaime, ao Jaime e aos outros,
Três comentários! Os espelhos andam por aí!
A Mãe e a Filha, a Filha e a Mãe. Chopin a três tempos, tocado pela Filha, pela Mãe e por Claudio Arrau. Todos ao espelho.
Não tenho um pingo do talento de Ingmar Bergman, mas com ele aprendi a ver.
Manuela Baptista
Quando nos olhamos no espelho, nem sempre vemos o que esse espelho reflecte, porque nos vemos não com os nossos olhos mas com os olhos reflectidos no espelho.
E são esses outros olhos, que não os nossos, que sabem ver-nos.
Só eles são guardiões dos nosso ser e do nosso pensar.
Só eles sabem dizer-nos ao ouvido o que calamos para os outros.
Confuso?
Talvez...
É um pouco como aquele poema do Drummond de Andrade sobre a verdade.
Um abraço
Isabel
VERDADE
Carlos Drummond de Andrade
A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.
Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.
Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia.
Perplexo
Os olhos do meu espelho
soltam-se na escuridão
na reflexão
entre eu e o meu não
segredam-me
o que não digo
inventam
o que já sei
e calei
Esta metade de mim, agradece à Isabel Venâncio a sua presença, o espelho da sua verdade e o poema de Carlos Drummond de Andrade.
Confuso? Não!
Um abraço
Manuela Baptista
ISABEL VENÂNCIO
Quando nos vemos ao espelho vemos o simétrico de nós mesmos que nos permite mais nos aproximarmos do Outro ...
... porque olhamos a dobrar!
Seja sempre bem vinda, um beijinho
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 28 de Julho de 2009
MANUELA
Não tens um pingo do talento de Ingmar!?
Olha que se com ele aprendeste a ver, em primeiro lugar, é porque o talento em ti já estava!
E olha que se me viste quando todos me deixavam para trás ...
O teu talento é ímpar!
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 28 de Julho de 2009
...ou par?
MB
MANUELA
Vês, vês como a realidade é complexa!?
Ímpar e par, evidentemente:
A aferição da nossa criatividade se é ímpar já que susceptível de ser avaliada de per si, também é par pois que, sem o par que formamos, nada disto seria possível!
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 29 de Julho de 2009
Talentos são talentos
o de Ingmar é dele
e deles prestará contas.
O seu é seu Manuela.
Se talentos podem inspirar outros
é porque no outro existe, latente,
a vontade de se deixar inspirar.
A filha não tinha essa vontade
e a mãe não possuí esse talento,
mas sabia que o espelho
conta sempre a verdade.
Um beijinho,
Maria Emília
Maria Emília,
Inspiradora resposta!
Entretanto, com talentos partilhados tornamos mais bonitas as páginas por onde andamos e multiplicamos espelhos e amigos.
Um beijinho
Manuela Baptista
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