sábado, 12 de setembro de 2009

O AFUNILAMENTO MEDIÁTICO

A bitola mediática, pela sua instantaneidade, afunila e logo na sua fulanização, a realidade.
Mas, mesmo na sua fulanização, ao querer retratar o singular, não que o queira mas porque o seu ritmo o obriga e impõe, circunscreve o indivíduo ao instante numa descrição redutora que, longe de o descrever o condiciona a uma subavaliada dimensão desprovida de suficiente profundidade.
Até porque, o próprio indivíduo visado, o alvo, condicionado pelo magnético das câmaras, sempre aquele interlocutor implícito mas mal visível quando não e a mais das vezes invisível mas omnipresente, indispensável é certo mas, no contexto, omnipotente como ainda mais o diria (!), ao indivíduo alvo, escrevia e não tendo este, por obrigação, saber da arte de representar, de saber, inteiro, evoluir à boca de cena, diante da objectiva logo se dispersa entre a oralidade discursiva e o saber estar, o que tão bem explica a mesa de apoio ou o púlpito e a figura de meio corpo neles refugiada em interposição cénica.
Isto é válido tanto para pivots como para comentadores, analistas ou figuras públicas, para o cidadão comum que, todos eles repartidos entre a projecção de uma imagem visual e a outra audio se dispersam, naturalmente, no seu mostrar!
Depois, também não é num minuto, cinco, quinze, meia hora ou hora inteira que, quem quer que seja mostra o que aproximadamente é ...
Na fulanização, em si mesma manifestação do afunilamento mediático, sinal dos tempos que, convenhamos, faz apelo ao indivíduo singular mas que, no instante, num momento o não consegue descrever, logo se patenteia esse imenso paradoxo, impasse que os tempos tão bem espelham e que a mediatização, por si mesma, não consegue, deste modo instantâneo, resolver.
Não o conseguirá resolver ...!
Tenho Obra feita e logo já posso, com toda a propriedade escrever que, por este meio, se encontra e vai mediatizando!
Em frente das câmaras, das objectivas portanto, mais exposto ainda, evoluiria sem dizer uma palavra, seria, aliás, um direito democrático que me assistiria e tanto mais se atendermos ao grau de exposição a que já me sujeitei (!), pois que não haveria palavra que dissesse que se aproximasse, minimamente do que, neste meu blogue e para não falar em tudo o que o precede, em tour de force já escrevi ...
O direito ao silêncio, manifestação sonora da privacidade, é um direito que a todos nos assiste.
Quero com isto dizer que o poder mediático é e pesem as suas limitações, incontornável!
Cada vez mais.
Mas, não apenas não deixa de ter as suas limitações como eu, ao ser exposto, igualmente incontornável (!), não deixaria de ter o direito de escolher como me expor ou tão só se me quero expor e quando.
Nas condições aqui enunciadas e que, por hipótese, reclamaria, expor-me-ia ainda mais ...
Esse, o direito à livre escolha aqui e para o que importa enunciado, o de decidir, legitimamente, ficar em silêncio, também é um dos fundamentos em que assenta a Liberdade.
E além disso, o que está escrito, escrito está e ler ... saber ler faz muita falta e não se faz assim, na instantaneidade objectivamente impositiva dos média!
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 12 de Setembro de 2009
Socha Paparazzi, Bratislava, Slovakia

20 comentários:

Anónimo disse...

Jaime,

Não deve ter nada a ver com o seu texto( cheio de enormes verdades), mas veio-me à lembrança uma frase de Mia couto"A vida descostura, o homem passa a linha, a corrigir os panos do tempo."


Beijo e um resto de bom sábado


Filomena

manuela baptista disse...

Sétima Arte

(aparte antes de as luzes se acenderem)
-o Jaime tem o privilégio de nos fazer lembrar de coisas que não têm nada a ver, mas são (do verbo ser)

As luzes acendem-se as câmaras agitam-se, Socha Paparazzi ainda não está presente:

-se eu fosse Glenn Gould, queria estar assim iluminado, inspirado e acariciar as teclas do piano e ser o homem e a música tudo ao mesmo tempo e ser eterno!

As luzes apagam-se:

-Glenn Gould era um pouco tímido, não sei se gostava das luzes e retirou-se dos palcos muito cedo.

As luzes reacendem-se, Socha Paparazzi já está presente.
O jornalista pergunta:

-E você, o que tem a dizer sobre o afunilamento mediático?

O Afunilado:Você? O senhor jornalista conhece-me de onde?

Jornalista:Então você não tem um blog muito chato com umas histórias que nunca mais acabam? Pois eu sou o Jornalista que nunca as lê!!!

O Afunilado:AH, não sabia...

Neste momento Socha Paparazzi cai, mortinho de sono com a entrevista. Tentam reanimá-lo. Em vão.
Até que alguém murmura:
-Mas o homem saiu da cabeça de Fellini é natural que apenas respire no cinema!!

As luzes apagam-se e eu lamento, mas não posso desenvolver este guião.

Vou fazer o jantar, porque isto do casamento às vezes é um grande funil e o autor de "O AFUNILAMENTO MEDIÁTICO" quer ver o encontro entre os seguintes candidatos: a Manuela (este nome fica-lhe mal!)e o nosso grande filósofo, Sócrates.

Abraços

Manuela Baptista

Anónimo disse...

Ah, Jaime!

Ainda estou assim arrepiada. Tanta verdade, tanta!

O resto já tinha sido falado.
Gostei de ouvir a sua voz( apesar do susto!KKKKKK)

Beijos aos dois


Filomena

Anónimo disse...

Peço desculpa, mas não tinha acabado.

Acho que vai haver réplica Amigo Jaime. Digo eu.

Ana Cristina disse...

Manuela e Jaime, um encontro que vale a pena!

O outro, mais à noite,também vou ver mas quase advinhando a profunda decepção.

1 beijinho para os dois.
Ana Cristina

manuela baptista disse...

Entre arrepios e encontros

envio beijinhos

para a Nini
e para a Filomena

Manuela Baptista

rosa disse...

Jaime,

No meu mundo sereno são as flores e as rosas que têm o papel principal.
Estamos na época de colheitas e novas plantações. Talvez por isso tenha transplantado para o meu jardim, um outro jardim seu, um jardim ameno de Agosto.

Grata desde já


Beijos de paz

Jaime Latino Ferreira disse...

DESAUSTINO


Preciso de contextualizar:

Sempre que venho a estas andanças sigo uma rotina:

Primeiro vou ver o meu mail e despacho, quando a há, a correspondência;

De seguida vou aos favoritos e clico nos meus blogues seleccionados e abro-os um a um, eventualmente comento, com a Filomena é sempre mais complicado porque Lhe tenho que enviar, para o Em Segredo, os comentários por mail ( descanse minha querida que já Lhe enviei a réplica ) e deixo sempre para o fim, primeiro o blogue de minha mulher e, finalmente, o meu;

Abri o Histórias com Mar ao Fundo e diante de tanta algazarra deixei mais um poema, réplica da réplica e da réplica;

Abro, finalmente, o meu e é isto que se vê, de cortar a respiração e de me fazer disparar para o lado e pese embora toda a consideração por todos e cada um dos intervenientes;

Isto, é bom que se diga, após o debate televisivo que, diga-se, como os outros, devidamente enquadrado por uma mesa que aos intervenientes os ajudou a comporem-se melhor ou pior;

O guião da Manela, os elogios da Filomena e da Nini, Mia Couto chamado à liça, tudo a pôr-me de rastos.

Os panos do tempo, descozidos, são alinhavados pelo homem que o costura.


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 12 de Setembro de 2009

Jaime Latino Ferreira disse...

ROSA


Oh Rosa arredonda a saia
oh Rosa arredonda-a bem
oh Rosa vê lá não caia
a vontade que te tem

Oh Rosa encarnadinha
oh Rosa que não desmaia
oh Rosa fica juntinha
com o amor que te convém

Oh Rosa que não definha
oh Rosa quando é que vem
de saia apertadinha
dançarico que é um bem

Oh Rosa da minha laia
Rosinha da minha vinha
oh Rosa vê lá não saia
disparate da festinha

( Já lá fui dar-Lhe o meu agréement )

Gratíssimo


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 12 de Setembro de 2009

manuela baptista disse...

Take II

Venho aqui esclarecer que não conheço Socha Paparazzi de lado nenhum!

Paparazzo é um personagem do filme de Federico Fellini "La Dolce Vita", fotógrafo irritante, moscardo sempre a zumbir e atrás de escândalos.

A partir daí chamam-se Paparazzi aos fotógrafos perseguidores de celebridades.

Quanto a Socha, está em Bratislava e deve ser uma homenagem aos cuscos...

Manuela Baptista

Ana Cristina disse...

"A certa altura, Sócrates citou uma frase de Abel Salazar, que está no pórtico da Faculdade de Medicina do Porto: «Um médico que só saiba de medicina não é bom médico». Há só uns detalhezinhos a apontar:

1) a frase não está no pórtico, mas sim no átrio;

2) não está na Faculdade de Medicina, mas sim no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar;

3) a frase correcta é «Um médico que só saiba de medicina nem de medicina sabe».

Mas, vá lá, acertou no nome.

(José Carlos Santos)"

Luzes,cena,ACÇÃO,srsrsrsr!

Beijinhos.
Ana Cristina

Jaime Latino Ferreira disse...

ANA CRISTINA


Querida Nini,

Antes de mais, obrigado pelas precisões que, são sempre convenientes.

Convenhamos e sem tomada de partido que nenhum dos intervenientes, nem a Clara de Sousa nem Manuela Ferreira Leite, foram, como Sócrates, capazes de corrigir, nem o sítio onde está nem tão pouco a própria citação.

Agora, reflectindo sobre o que foi dito e a própria citação, em tese:

Partilho-as, tanto a uma como à outra e até acho serem complementares ...

No entanto, isto é o que acontece quando imprevistamente nos lançam, nela refugiados, uma citação:

Atemorizados pelo pórtico, ficamos sem saber se é o pórtico ou o próprio que o cita, que se abatem sobre nós!

Academismos ...

Não há nada como pensar pela própria cabeça!

Beijinho


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 13 de Setembro de 2009

Jaime Latino Ferreira disse...

MANUELA BAPTISTA


Sobre os Cuscos

Todos nós gostamos de uma boa cuscadela ...

Quem se atreve a dizer que não!?

O socha que em rigor não sei se é uma expressão em eslovaco, qualquer que ela seja ou o nome do escultor, de um paparazzi, quiçá (!?), aí está para no-lo comprovar!

A cuscadela tem, porém, os seus limites:

Se um paparazzi me seguisse de objectiva em punho, admitindo, por um momento, que eu era uma celebridade, dava um traque, parava e olhando-o fixamente perguntava-lhe:

Então, registou o meu traque?

Não!?

Olhe que é imperdoável (!), como poderá agora alardear aos sete ventos que também tenho as minhas flatulências!?

Gravou-a em registo audio!?

Não, então como poderá comprovar a sua dimensão sonora!?

E o cheiro, sentiu-o!?

Ah, bem me queria parecer mas se o cheirou de que é que, comprovadamente, poderá tirar partido!?

Fique-se com o cheiro que o proveito é meu ...

... ou não as dá!???

A flatulência cuscosa ficaria, estou certo, por ali!


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 13 de Setembro de 2009

manuela baptista disse...

Take III

Conversa entre Cuscos:

-Sócrates deveria ser mais simples, porque não é preciso andar a citar a torto, a direito e a medicina.

-Como muito bem diz o Jaime, se ele tivesse alguma coisa na cabeça não procurava o conteúdo da cabeça dos outros.

-Por outro lado a Ferreira, porque Manuela sou eu, quando embica nos nominativos e na conjugação dos verbos, valha-me Deus!

-Venha aí uma professora de Português e explique-me!

-Então e a flatulência nas entrevistas? Deveria constar em qualquer programa eleitoral, este direito costitucional!
Os cidadãos devem poder soltar livremente os ares que os afligem...

-Apenas nas entrevistas? Eu diria mais, em todo o lado!
Com tanta energia eólica daria para fazer mover 10 TGV.

Socha não aguenta mais, atira a câmara ao chão e salta sobre ela desfazendo-a em mil bocados.

Concluindo:

Gostaria que todos os médicos tivessem a humildade e sabedoria de Abel Salazar e que cada um na sua profissão pudesse dizer o mesmo.

Um político que só saiba de política não é bom político.

Manuela Baptista

Recado ao Jaime: pensas que só tu fazes histórias intermináveis?

manuela baptista disse...

...esta histórias de cuscos foi iniciada pela ausente Filomena, que falava apenas de gatos!

Deu nisto.

MB

Jaime Latino Ferreira disse...

ALTO LÁ


Manuela,

Temos aqui um enredado problema!

Situemo-nos:

Eu não disse que Sócrates não tenha alguma coisa na cabeça, a doença infantil da academia, a-citação-ó-mania é que é uma praga;

Muito bem, a Manuela é só Ferreira mas se eu sou Ferreira por quem é que te decides;

E, finalmente, se, como insinuas, um não tem nada na cabeça e a outra embica nos nominativos e na conjugação verbal, sobra o quê?

Leite, minha querida, leite desnatado!

Um leite sem natas não é um bom leite.

Tens toda a razão, a culpa disto tudo é da Filomena!


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 13 de Setembro de 2009

manuela baptista disse...

Vou parar por aqui...

As próximas "SEM PÁGINAS DE UMA ARTE" tem por título "Feios Porcos e Maus"
("Brutti Sporchi e Cattivi" de Ettore Scola.

Bem hajam pela paciência!

Baptista

nota:até ao final da campanha eleitoral retiro Manuela e Ferreira

Jaime Latino Ferreira disse...

BAPTISTA


Não retires a Manuela
pois sem ela não se avista
grandioso barco à vela
minha alegria que é mista

Socrático o pensamento
é o que vê governante
é como Leite alimento
possível a cada instante

Tu és amor meu altruista
pintura a aguarela
família de nome Baptista

És a Manuela invento
dia e noite de rompante
que me enche e meu sustento

( Força com as Sem Páginas! )


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 13 de Setembro de 2009

Linda Simões disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Linda Simões disse...

NOSSA!

AFUNILAMENTO
CUSCOS
CUSCADELA

...

KKKKK

Beijo aos dois!