Posta esta declaração, a página anterior, que recusa olhar o género como factor de discriminação ou de exclusão e seja em que sentido for, posso agora olhar para o Outro com toda a disponibilidade, sem nuvens ou sem preconceitos que adicionem ruído que me atrapalhe no juízo que dele possa, eventualmente, ser tentado e ainda que involuntariamente a fazer.
O Outro e eu:
Não faço juízos de intenções!
Ao Outro vejo-o como a imagem de mim próprio no reflexo que com Ele estabeleço e não parto, por isso, do princípio que o Outro seja movido por outra que não seja a vontade do entendimento, a procura, a interminável busca da verdade.
É claro que isto é muito fácil de dizer e normalmente, na sua busca, geram-se enormes desentendimentos mas, se permanecer fiel ao enunciado no parágrafo anterior e não desistir de ao entendimento como à verdade a procurar sem desistir e sem bater com a porta, é minha convicção que pontes serão estabelecidas com o Outro e tanto mais quanto preserverante, nesse caminho persistir.
E entenda-se o Outro em sentido amplo, desde o indivíduo singular à instituição ou pessoa colectiva ou ... ao colectivo das pessoas.
Ao Outro não o poderei usar como meio que me permita atingir, a que preço for, os meus fins.
O Outro é, portanto, sacrossanto e não Lhe poderei violar a Sua integridade nem tão pouco o poderei usar e descartar que é outra maneira de à Sua integridade a violar.
O Outro não se usa e deita fora!
O Outro é de mim próprio um igual e nessa assumpção Lhe terei de permanecer fiel até ao limite do tolerável, isto é, até que esgotadas estejam as possibilidades de criação de pontes, de entendimento.
Muitas vezes, quantas (!?), essas possibilidades subsistem sempre e para lá da espuma dos dias, inesgotáveis, interpelantes e desafiantes, bastando para isso que Dele, do Outro não desistamos!
E quando, chegados a este ponto o constatamos por uma qualquer intuição, percepção feminina que não pára de se insinuar, descobrimos, maravilhados, na descoberta da diferença que do Outro nos aparta, quanto essa diferença é o cerne que faz do relacionamento a sua riqueza sem fim e de quanto e seja lá quem for o Outro, nele vale a pena apostar:
Quão rica é a relação que assim se constrói sempre preenchida, resolvida e sempre inacabada;
Quão criativa ela se pode tornar;
Quão reprodutiva e fecunda no seu pleno e primordial sentido ela se torna, se verdadeiramente nela apostarmos!
Tudo o resto assenta em superficiais jogos de palavras sem ir ao fundo, ao cerne de toda esta interpelativa questão.
E de uma leitura superficial destes meus textos que se faça, não me acusem de ingenuidade imberbe, tacanhez crédula ou crendice ...
Como professor que sou eu só posso educar para a Paz!
O Outro e eu somos nós mesmos e nós, sendo muitos e diversos, somos um só!
A Humanidade é uma só ...
O Outro és tu, sou eu e é Deus para quem Nele acredite.
Mas sendo apenas tu e eu, o que já é ser muito, é também o essencial já que a essência nele, no essencial se contempla!
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 20 de Setembro de 2009
6 comentários:
Jaime,
Seu texto nos faz refletir... Como anda a humanidade? É desumana?Hipócrita?...Ainda temos tempo pra mudanças?...
"...A humanidade é desumana
Mas ainda temos chance
O Sol nasce pra todos
Só não sabe quem não quer..."
(Renato Russo)
Como professores,eduquemos para a PAZ,sempre.
Beijinhos
LINDA SIMÕES
Querida Amiga,
Qualquer coisa me dizia que a Linda já por aqui andaria ...!
Ainda bem que acha que o texto faz reflectir e nem o escreveria se não tivesse esse propósito.
Podia tê-lo alcançado como não mas a minha Amiga indicia que sim, que o atingi!
Plenamente, em parte, um bocadinho que seja mas num bocadinho já se poderá, ou não (!?), ver muito ...
... e vai-se sempre a tempo, lema que me persegue.
A Humanidade só pode ser humana e, decididamente, o Sol nasce, tem de nascer para todos!
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 21 de Setembro de 2009
Os caminhos para a Paz passam por aqui
porque sou eu e o outro então sou apenas eu
ou o outro?
Muito bonito texto para um início de trabalho com jovens! E boa música...
Já eu, sou mais desconfiada, às vezes sem paciência nenhuma para o outro!
E então se o outro é um grande chato, um ignorante, um pomposo, um vaidoso sem fundamento...divido-me logo em apenas eu...
Como vês a tolerância ainda é intolerante.
Manuela Baptista
Estive a ler com muita atenção o Seu
texto.
E pus uma das suas frases no meu blog.
E foi a melhor coisa que fiz
Beijinhos
Filomena
FILOMENA
Minha Querida,
Já vi e fico-Lhe, para variar, muito reconhecido!
Amigas assim, neste mundo dos blogues, há poucas mas há-as e a Filomena é uma delas!
Beijinhos
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 21 de Setembro de 2009
MANUELA BAPTISTA
1 - És as duas coisas porque nós também somos as relações que estabelecemos;
2 - Às vezes poderás não ter paciência nenhuma mas outras, tem-la infinita;
3 - Diante de um chato e tudo o que mais enumeras, reflectindo-o reforças tudo o que em ti e por comparação com ele é tudo menos chato;
4 - A tolerância, essa, também não existe senão pela aversão à intolerância e nesta última palavra já se contém ela própria e o seu desejável contrário;
5 - O Eu, esse também vive permanentemente dividido entre ele próprio e o seu contrário, simétrico outro!
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 21 de Setembro de 2009
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