terça-feira, 15 de setembro de 2009

EDUCAÇÃO EM RUPTURA ( II )

Correm rios de tinta sobre a Educação ... e desde a mais tenra idade ...
A coitadinha da criança, coisa melhor que há no mundo!
Este cliché está omnipresente na Escola mas, da criança, propriamente dita, pouco ou nada se fala a não ser em termos comportamentais, normativos e estatísticos, esquecendo, a mais das vezes, o indivíduo que, na singularidade que o caracteriza, ela fundamentalmente é.
Nem admira ou espanta:
Afogados em burocracia imposta de cima e tendo, desde o início do ensino básico, à sua guarda, uma multidão de crianças, aos professores, em rigor, pouco tempo lhes resta para reflectirem sobre o material humano de que são responsáveis e os processos de avaliação, esses também e à míngua de reflexão exaustiva sobre o público alvo da sua intervenção, pecam cada vez mais pelo descentramento derivante que vão espelhando.
Repare-se que, publicamente e na sociedade, agitam-se os interesses de todos os agentes da Educação e preterida, sistematicamente preterida é essa reflexão, absolutamente central em todo o processo que aos agentes os justifica e sem a qual o sistema flutua numa deriva cada vez mais sem norte!
Repare-se, ainda, que atingidos os professores, eles próprios, pela necessidade incontornável de serem avaliados, em ondas de choque se agitam como se, na aguda consciência que por esta via os interpela, se dessem, finalmente, conta, de quão mais próximos afinal estão desse público alvo, lavra que os justifica (!) e não dos ditames burocráticos impostos de gabinetes isolados do terreno, abraçando por isso em revolta e nas ruas a causa tão preterida que a eles também os pretere.
Terão eles, os professores e afinal (!), de ser burocratas no terreno, agricultores sem enxada, ou cultivadores das mulheres e dos homens de amanhã!?
Da nobreza de carácter em toda a sua plenitude!?
No olhar singularizado que lhes é negado e impedido por tanta burocracia que lhes é imposta pelos jogos de poder e de interesses quantas vezes estranhos à própria Educação subliminarmente e ainda que involuntariamente ditados!?
Serão eles o quê, num contexto em que se vêem, subitamente, espelhados, afinal, no público alvo de que deviam cuidar!?
Abertura no processo educativo, verdadeira abertura como nunca a houve ou, pelo contrário, fechadura, ao arrepio inadiável da implacabilidade dos tempos!?
A criança ...
Voltando ao cerne, à reflexão sobre o público alvo sem a qual tudo o resto é escusado, dou aqui e uma vez mais, o pontapé de saída.
Sobre a criança costumo dizer e escrever como já sistematicamente, por mim, reflectido e registado foi:
-
A criança é um indivíduo concentrado
logo fisicamente ela o é
tão concentrado que
distraídos
os adultos julgam que quem o está é ela
-
E, neste desafio reflexivo que já não é pouco, com ele aqui Vos deixo!
-
-
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 15 de Setembro de 2009
de cavalo para burro

15 comentários:

Linda Simões disse...

Ah!As crianças!...Desde a mais tenra idade sufocadas...Horários pra tudo!

...E o que vão ser quando crescerem?

...


Viva a liberdade!...


Beijinhos

Jaime Latino Ferreira disse...

LINDA SIMÕES


Minha Querida Amiga,

Pois é, ai as crianças:

Ai as crianças que nos interpelam comunicando como sabem nas suas linguagens espontâneas mas rudimentares e que, quantas vezes, receosos, somos incapazes de interpretar e tanto mais quanto presos a padrões didáticos que de Didática têm nada e de Pedagogia coisa nenhuma!

Quando penso, por exemplo, num desenho feito por uma criança, ocorre-me, invariavelmente, Miró que tão bem espelhou, polidamente e após o percurso que fez, a ele, a esse traço regressando e resolvendo-o, ao traço do desenho infantil feito com mestria pela mão da própria criança que ele como qualquer um de nós o é, o continua a ser ...

Ai as crianças!

Que irão ser quando crescerem?

Quer queiramos quer não, o seu futuro está nas nossas mãos e ele passa inexoravelmente pela afirmação da Liberdade e apesar de todos os empecilhos que atrapalham a Educação!

Um grande beijinho


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 15 de Setembro de 2009

manuela baptista disse...

Como esta Educação em Ruptura anda mais depressa do que eu e a espécie masculina retomou o poder neste blog, vejo-me obrigada a continuar a conversa com as minhas amigas aqui nesta ruptura II.

Aventuras Pedagógicas I

A minha vida profissional como Educadora foi de facto uma aventura! Tive o bom senso de sair da "casinha das bonecas" e lançar-me pelo espaço educativo sem preconceitos, dando voz às crianças com quem tive a honra de partilhar a existência.

Claro que também tive a sorte de não ter que me render a Directores inabéis ou ignorantes, Ministérios atolados em papéis, directivas, critérios de avaliação e outras contradições.

Quando deixei de ser avaliada e passei a avaliar os outros, encontrei muitos meninos felizes e Educadoras inteligentes, mas também me deparei com outros e outras bastante infelizes.

Meninos obrigados a preencher de determinada cor (escolhida pelo adulto) uma zebra fotocopiada.

Como se vê há professores que ignoram a possibilidade de as zebras serem todas diferentes e a capacidade que qualquer menino tem de as desenhar, ou não.

Aventuras Pedagógicas II

partilhadas com a Ana Cristina neste mundo junto a Cascais, onde oferecemos a muitos meninos a oportunidade de desenhar estrelas!

Logo, os mais crescidos são exactamente aquilo que eram quando crianças.

No Armário dos Tachos

E termino explicando o conceito de Educadora que nunca saiu da casinha das bonecas, sabendo nós que a casinha das bonecas ainda permanece um espaço de eleição nos Jardins de Infância tradicionais como representação de uma casa, com bonecas, vestidinhos, camas, loiças, fogão etc, onde as crianças brincam (quando as deixam) em jogos de faz de conta.
Assim há Educadores que levam a vida a fazer de conta, infantilizando-se e infantilizando as crianças, não crescendo nem permitindo que os outros cresçam.

Quem infantiliza não respeita a Infância, vive apenas a sua caricatura.

À Ana Cristina,
à Linda,
à Filomena
e também ao Jaime

pela excelente oportunidade que nos deu de cascar, cuscando.

Manuela Baptista

Anónimo disse...

Olá!

Bem Jaime, devo dizer que não consegui ler o seu texto, aliás nem sei como é que lhe estou a mandar um comentário!

Acontece que hoje às 16h50 entro numa turma de 28 alunos onde 7 são assim qualquer coisa para as quais ainda não encontrei palavras capazes de os classificar.

Desde faltas de respeito a mim e a eles mesmos e ao resto da turma, a interrupções constantes a tudo o que eu tentava dizer, com saídas completamente descabidas e do mais baixo nível, aconteceu de tudo.

Era, pelos vistos, o ano passado uma turma de 5º ano de 25 alunos impecáveis. Reprovaram 4 e vai de meter os outros 7 que são aquilo que eu vi e que ainda me falta ver.
São os tais que aturo sempre aos últimos tempos da tarde!

Isto sim, é que é qualidade de ensino! Isto sim é que são crianças!
Isto é que são se calhar os futuros autarcas deste país, quiçá alguns futuros ministros e outros tantos empresários digo eu.

Viva PORTUGAL e a EDUCAÇÃO

Um beijinho

Nem sei como consegui escrever tanto. É que mal consigo pensar!

Ai, Manuela hoje as fadas são outras, percebe?


Filomena

Jaime Latino Ferreira disse...

MANUELA BAPTISTA


A espécie masculina retomou o poder neste blogue!?

Que desplante!

A bem de ver, eu apenas crio páginas que Vos abrem campo fértil e inesgotável para dele se assenhorearem à descrição ...

Ora esta!


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 15 de Setembro de 2009

manuela baptista disse...

Filomena

E 7 vão desestabilizar 21!
Aliás 28 é demais!

Não existem palavras...

Um beijinho à Filomena que não leu o texto, mas viveu o texto.

Manuela Baptista

. intemporal . disse...

. da reflexão sobre a matéria humana em prol de um futuro a ser presente .

. persistente .

. res.plandecente .

. assertivo .

. parabéns pela postagem .

. um abraço .

Linda Simões disse...

Manuela,pois não é que as tais zebras estão ainda vivinhas na maioria das escolas?E quando agimos diferente somos chamadas de Agitadoras???Não ligo rrsrsrsr

Sou mesmo agitadora se for pra mudar o quadro atual da EDUCAÇÃO!
...E quando os alunos chegam à direção da escola com "mudanças"...De quem é a culpa??? Da professora Ana Simões(Linda-apelido)...rsrsrsrsrs

...

E Jaime,obrigada pelo mote.


Beijinhos aos dois!

manuela baptista disse...

Ana Agitadora de Zebras

mudanças assim tipo, meter a 3ª em vez da 1ª?

Resta a consolação de que, em matéria de rupturas, somos cidadãos do mundo!

Um abraço

Manuela Baptista

manuela baptista disse...

Acabei de sofrer uma ruptura...

e o Paulo, tão Intemporal com os seus pontos cheios da matéria com a qual se constroem pontes, escreveu postagem e eu percebi que os pixels também têm defeitos.

Fiquem calmos, que eu agora vou-me embora porque este blog não é meu!

Manuela Baptista

Linda Simões disse...

Manuela,beijinhos pra ti!Vou agitar minhas zebras!!!rsrsrrrs


Boa noite!

Jaime Latino Ferreira disse...

FILOMENA CLARO


Pois é, sete, às vezes um apenas, conseguem trinta por uma linha!

Solidarizo-me Consigo embora Lhe deva dizer que, em tempos, trabalhei naquelas a que se chamavam escolas de intervenção prioritária e aí, nem queira saber ...

Sei que dessas como de outras experiências tidas no terreno muito reflecti e que sem essa reflexão não teria chegado a estes textos sobre a Educação.

Não desespere nem entre em ansiedade porque esses são estados de alma que se pressentem na sala de aula e pouco ou nada ajudam a resolver essas situações com que se depara.

Um grande beijinho


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 15 de Setembro de 2009

Jaime Latino Ferreira disse...

LINDA SIMÕES


Linda menina
de zebras
leões
agite
os bichinhos
nos caramanchões

Beijinhos


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 15 de Setembro de 2009

Jaime Latino Ferreira disse...

.PAULO.INTEMPORAL.


Meu Caro,

Obrigado eu e duplamente, um, pelos elogios que me faz e outro, pela solidariedade que me presta não deixando este terreno apenas na mão das nossas prezadas e sempre bem vindas intervenientes!

Grande Abraço, Seu


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 15 de Setembro de 2009

Branca disse...

Olá Jaime,

Li com muita atenção tudo o que escreveu e que ao longo dos anos vem sendo dissecado e exposto por quem tem um mínimo de sensibilidade e responsabilidade no encaminhamento da personalidade das crianças. Não se entende como os ouvidos dos responsáveis continuam tão surdos!
Nenhum país muda, nem se democratiza capazmente, se não se começar pela educação e a verdadeira revolução educativa parece-me que nunca se fez, andou sempre remendada e cada vez mais rota.
Gostei imenso da sua prespectiva de ensino individualizado e dos comentários da Manuela e da Linda Simões. Que bom seria, que mundo ideal, se todos fossem agitadores de zebras!
Um beijinho especial para a Filomena com o desejo de que consiga domar as feras da melhor forma e a adaptação não seja tão difícil como se prevê.
Tenho uma admiração enorme pelos professores, pelos bons, sobretudo nestes tempos tão difíceis.
Fiquei enternecida pelo que li e por ter visto em todos vós a ternura e a capacidade educatica que encontrei nos meus "Mestres".
Digo sempre que fui uma previligiada, pois numa época em que o ensino tinha outra espécie de dificuldades, que não as de hoje, estudei numa escola Franciscana de Padres Capuchinhos, com muitos professores leigos e que era talvez a única no país à altura, que tinha ensino misto e que foi uma democracia dentro da ditadura. Sempre me senti em família e sei bem do que o Jaime fala, porque ali cada indivíduo era um ser único e a escola era a nossa segunda casa. As iniciativas dos alunos eram sempre incentivadas e tidas em conta. Lembro-me que havia uma turma, de que eu própria fiz parte, que por ser diferente ganhou o nome de "Os Independente", gracinha carinhosa e criada com todo o respeito e espírito adolescente, porque moviamos todo o colégio para iniciativas de foro social e outras, qu mesmo que fossem iniciativas particulares e as executassemos ao Sábado, sempre haviam professores que nos faziam a surpresa de estar presentes a apoiar.
Por tudo isso me fizeram lembrar tão bons educadores que tive e em nome das crianças bem-hajam e bem-haja Jaime por agitar esta bandeira.

Beijinhos para o Jaime, para o Paulo que por aqui passou e para as senhoras que estão em maioria,hihi, mas isto acontece porque o Jaime é um gentleman!

Com amizade
Branca