Eu podia sublinhar a ofuscação, a escuridão ou o brilho das estrelas. Podia frisar as carências, as imensas desgraças que nos cercam e que não há como rodeá-las nem tal se me afigura ou pretendo ou sublinhar o brilho, a luminescência, o belo que nos cerca e que tende a ser ofuscado pelas primeiras.
Opto e no entanto, pelo brilho ...!
Sem deixar, quando necessário, de apontar as primeiras ou denunciá-las quando entenda oportuno ou ingente.
Se não acrescentarmos luz à luz, que será dela neste imenso vale de lágrimas!?
Que respiração adicional aduziremos como suplemento de alma que aos outros os ajude, possa ajudar a respirar melhor!?
Que possa ajudar, aos outros, a reunir as forças bastantes que lhes permitam levantar a cabeça e prosseguir, a juntá-las porque elas estão lá, em todos e ainda que recobertas de camadas e camadas de desespero, de sofrimento incontido!?
Eu podia ter optado por chorar as minhas tristezas que as tenho, as minhas desventuras ou aparentes becos sem saída que me assolam, afligem e constrangem mas não o faço.
Se eu iluminar o meu túnel ou caverna, talvez lhe encontre uma saída mas se, pelo contrário, o adensar em maior escuridão, nem me ilumino a mim e muito menos aos outros que de um suplemento de luz necessitam e quantas vezes, sem que tenham sequer as forças bastantes para a vislumbrarem e ainda que muito vagamente.
Porque estou em condições de fazê-lo, opto, portanto, pela luz que também se traduz em Arte e na sublime arte de viver e que só pode ser positiva!
Opto e no entanto, pelo brilho ...!
Sem deixar, quando necessário, de apontar as primeiras ou denunciá-las quando entenda oportuno ou ingente.
Se não acrescentarmos luz à luz, que será dela neste imenso vale de lágrimas!?
Que respiração adicional aduziremos como suplemento de alma que aos outros os ajude, possa ajudar a respirar melhor!?
Que possa ajudar, aos outros, a reunir as forças bastantes que lhes permitam levantar a cabeça e prosseguir, a juntá-las porque elas estão lá, em todos e ainda que recobertas de camadas e camadas de desespero, de sofrimento incontido!?
Eu podia ter optado por chorar as minhas tristezas que as tenho, as minhas desventuras ou aparentes becos sem saída que me assolam, afligem e constrangem mas não o faço.
Se eu iluminar o meu túnel ou caverna, talvez lhe encontre uma saída mas se, pelo contrário, o adensar em maior escuridão, nem me ilumino a mim e muito menos aos outros que de um suplemento de luz necessitam e quantas vezes, sem que tenham sequer as forças bastantes para a vislumbrarem e ainda que muito vagamente.
Porque estou em condições de fazê-lo, opto, portanto, pela luz que também se traduz em Arte e na sublime arte de viver e que só pode ser positiva!
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( Dedicado à Brancamar )
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 4 de Maio de 2009
12 comentários:
Bom Dia Jaime!
Lindo texto... pode ter sido dedicado
à Branca, mas é com se tivesse sido escrito para mim.
Percebe, não percebe?
Beijos
Filomena
Manuela,
E a Menina está bem?
Beijinho
Filomena
FILOMENA
Minha Querida,
Se o dediquei à Brancamar foi porque foi ela que me deu a dica e me fez estar aqui quando, tenho que ir com minha mulher tratar de nossos assuntos ...
Mas fi-lo com todo o prazer e se na pessoa da Branca o dediquei, ele é, também dedicado a todos os meus destinatários!
Então não a percebo!?
Beijinhos,
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 4 de Maio de 2009
Assim não tenho tempo de contemplar as estrelas, só posso dizer que é bonito, mas isso não chega.
Mal entramos, ensonados num Nocturno para ver quem passa e de repente apanhamos com uma chuva de estrelas candentes que rapidamente iluminam e caem.
Ainda bem que a Branca e a Filomena acompanham a pedalada, pois eu senti-me num apeadeiro a ver passar os rápidos.
Ora manda lá um combóio que pare em todas, se faz favor!
Manuela Baptista
Olá Filomena,
Espero que o seu dia hoje seja carregado de brilhantes, para que possa guardar alguns numa caixinha.
Assim quando estiver escuro é só abrir a tampa e soltar dois ou três...
Beijinhos
Manuela Baptista
RONCEIRÃO
O comboio que se segue, pára em todas as estações!
Melhor, vou parar por aqui até amanhã para que todos possam seguir o que foi escrito.
Pelos outros e por mim.
A todos!
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 4 de Maio de 2009
Explicação Das Estrelas
Candentes chegaram
à incandescência rubra
clara
brilhantes
resplandecentes
cadentes vão caindo
cadenciadas
ritmadas
é por isso que as estrelas
candentes
são cadentes estrelas
Manuela Baptista
O Pintor e o Poeta
O Pintor morava numa casa baixa e pequena, cheia de janelas, com uma porta larga e um alpendre, no meio de um vale verde atravessado por um ribeiro que cantava. A casa tinha apenas um andar e por cima um sotã, de onde se avistava toda a aldeia e a única formação montanhosa das redondezas.
O Pintor era um homem feliz e gostava da luz da manhã para pintar os seus quadros, saía cedo, mal os pássaros acordavam, pegava nas tintas, nos pincéis e no cavalete e saía a assobiar por aí fora.
Parava onde a luz falasse mais alto e pintava as ervas e as flores, as árvores e o rio, as casas dos seus vizinhos, os muros dos quintais, as telhas dos telhados, as crianças no recreio da escola, e aquele monte lá ao fundo solitário e estranho. Às vezes pensava: “ Quem morará naquela casa lá no alto, tão alta, tão longínqua?”
Também gostava dos entardeceres em que o Sol chamejava no horizonte e a calma era tanta que o Pintor se comovia e os seus quadros reflectiam aquele momento em que tudo parece parar e a vida suspende o seu curso.
Por isso quando a noite chegava, o Pintor sentia os olhos cansados de tanta cor e ia cedo para a cama e sonhava com tintas, lápis e pincéis.
O Poeta, morava numa casa alta no cimo de um monte, íngreme e ventoso. De um lado avistava o vale verde e a aldeia, do outro o mar imenso e os rochedos lá em baixo precipitados em descida perigosa. A casa era grande, com muitos quartos e salas e tinha à sua volta um jardim onde as flores tinham dificuldade em crescer por causa do vento e do ar marinho.
O Poeta era um homem inquieto, gostava da noite e do mistério das estrelas, gostava do uivar do vento e das noites de tempestade. E era no silêncio das noites e diante de uma enorme janela virada para o mar, que o Poeta escrevia, sobre a tristeza e o amor, sobre a beleza e a inquietação, sobre a morte e sobre a vida.
Às vezes ao entardecer, percorria a casa e da janela virada para o vale tão verde, dizia para consigo. “Quem morará naquela casa lá tão em baixo, tão pequena e com tantas janelas?”. Mas rapidamente escurecia e ele esquecia-se desta questão.
E assim o Poeta, toda a noite escrevia e quando amanhecia estava feliz mas exausto, adormecia pesadamente e sonhava com versos, estrofes e histórias de amor.
Um dia, por uma qualquer razão desconhecida, o Pintor acordou tarde e sem vontade de pintar.
“Estarei doente?” pensou. Mas não tinha febre e também não lhe doía a cabeça, por isso não se preocupou e resolveu aproveitar o dia de outra forma.
Limpou os vidros, fez um bolo de chocolate, regou as flores do jardim e cantou uma aria da Flauta Mágica enquanto tomava banho. Depois de tudo isto e como já era tardíssimo resolveu dar um passeio com as mãos a abanar, ou seja sem cavalete, sem tintas e pincéis.
Nesse mesmo dia, por uma qualquer razão ainda mais desconhecida, o Poeta acordou cedíssimo e sem vontade nenhuma de escrever. “Devo estar doido! Como é que é possível acordar assim tão cedo e ainda por cima bem disposto?” Aproveitou então para aspirar o pó das estantes, arrumar os livros, arrancar as ervas do jardim e como ainda era cedo calçou uns sapatos de passeio, vestiu uma camisola e saiu pelo monte abaixo a assobiar.
Era aquele momento do entardecer, logo após o pôr do sol, em que ainda não é noite mas também já não é dia; o tempo parece suster a sua marcha e há uma quietude no ar como uma promessa por cumprir, como um quadro por pintar, como um livro por escrever.
O Pintor subia e o Poeta descia e nesse instante cruzaram-se os dois a assobiar. E apresentaram-se: “ Eu sou o Pintor”,“Eu sou o Poeta”.
E andaram por aí e conversaram e falaram do dia e da noite, dos vagueares nocturnos e dos brilhantes dias. Do monte e do vale, do ribeiro cantante e do mar tormentoso.
A noite chegou e as estrelas piscaram e o Pintor convidou o Poeta para visitar o vale e a sua casa e comeram bolo de chocolate até de madrugada.
A partir daí, o Pintor aprendeu a desenhar estrelas e a não ter medo das coisas da noite e o Poeta aprendeu a cantar o dia, não se ofuscando com o brilho do sol.
Manuela Baptista
...de como os nocturnos cantos encontram o brilho dos dias...
Estoril,4 de Maio de 2009
MANUELA
Meu Amor,
És muito engraçada ...!
Primeiro é porque não consegues acompanhar a pedalada, depois, sais-te com uma história tão bonita que me obrigas agora a editá-la em primeira página ...
... e lá se vai o ronceirão!!!
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 4 de Maio de 2009
Manuela,
E eu vou-me retirar e adormecer e sonhar com este Poeta e com este Pintor e amanhã na aula de Português do 5º A vou ler a sua história aos meninos.
E nos olhos deles vão brilhar estrelas e mil sóis e vão ficar felizes, os meus meninos.
Obrigada por uma história tão bonita.
Beijos
Filomena
Jaime,amigo
Tal como o poeta e o pintor coabitam ,com curiosidades paralelas, na história malandra da Manuela,também o seu texto poderia ter como título "Escuridão e Brilho", pois ambos fazem parte dos nossos dias e da nossa vida,não sendo necessário optar por um ou outro.
Se vivessemos na escuridão permenente qual toupeiras,corríamos o risco de cegar se nos confrontassemos com um efémero raio de luz.
Em oposto se vivessemos no limiar absoluto do brilho qual Ícaro,acabaríamos por nada ver,ofuscados pela luz.
Em ambos os casos nos confrontaríamos irremediavelmente com a cegueira!
Noite e Dia
Escuridão e Brilho
Pessimismo e Optimismo
Tristeza e Alegria
Fim e Princípio
Morte e Vida
Difícil é encontrar o equilíbrio e o limiar da sobrevivência!
Beijinhos da
Nini (babadíssima ....por estes dias).
ANA CRISTINA
Minha Querida,
Antes de mais, muito obrigado!
E até estamos de acordo:
Como diz, difícil é encontrar o equilíbrio entre todos esses ingredientes!
Apenas frisaria que o limiar da sobrevivência é, quanto a mim, excessivamente pouco e desiquilibrado.
Daí o frisar do brilho tão indispensável que é para que não nos limitemos a sobreviver mas antes para que possamos viver.
Malandro que também sou, há, no entanto, uma assinalável diferença!
O problema está em saber de que brilho se fala!
Veja então, se o brilho do pintor como do poeta, não saíram enriquecidos pela troca que entre eles se deu.
Beijinhos grandes e veja lá se não gosta de ser e de se sentir ... babada pelo brilho da Diana!?
Virá daí mal ao mundo?
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 5 de Maio de 2009
Jaime, meu querido amigo,
É imperdoável que tenha passado por aqui e não me tenha apercebido desta dedicatória.
Antes de mais nada, tenho que lhe agredecer e pedir imensas desculpas, poderia dizer que ando em fase muito difícil, que chego a abrir o computador e ter que o fechar quase logo, por cansaço, mas nada pode servir de desculpa, até porque já tinha lido o texto de forma mais ligeira e não reparei nas letrinhas lá no fundo que mo dedicavam, fiquei tão sensibilizada! Adorei também a área de Mozart e as maravilhosas paisagens do vídeo tão ao meu gosto. Paisagens belíssimas de uma natureza ímpar! Fico feliz por compartilhar este miminho com a Filomena e com todos os que passam por aqui.
E peço-lhe Jaime, não fique zangado comigo, talvez um dia compreenda as minhas razões, muitas delas estão neste texto e é com as lágrimas nos olhos que sinto que falhei neste momento e lhe deixo um beijinho de amizade, imenso.
Branca
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