Nocturno, escrevo para fora, para o público, para ti, anónimo, para quem me queira ler.
Escrevo e ilustro o que escrevo:
Com imagens, com arte;
Com trechos musicais, não menos artísticos.
Tento entrelaçar umas com os outros e dar-lhes, não apenas unidade mas também, qual cometa, continuidade e dinâmica.
O traço contínuo, o alinhavo ou costura deste meu blogue é, faço por ser a escrita, o texto que se desenrola como fio de água ou pó de estrelas que desejo ininterrupto.
A ti, que me lês, poderei como não, conhecer-te.
És, no entanto e em qualquer dos casos, nocturno, encoberto, eclipsado que estejas, o meu destinatário.
Imagino-te por isso, como à noite, tão magnífico, misterioso quanto o possível:
Podendo-te identificares comigo;
Em parte, apenas;
Ou não te identificando de todo.
Em qualquer dos três casos, porém, é a ti que te escrevo e sempre na esperança das possíveis interacções, conexões expressas que se desencadeiem entre nós.
Quando se desencadeiam, traços de maior proximidade se criam e o que escrevas, luminescente, nunca me é indiferente.
Quando não se desencadeiam, longe de me enxofrar contigo, imagino das razões, dos porquês para que tal aconteça e eles são tantos, tantos e tantos que, como me dirijo para fora, na noite escura e para as estrelas, para ti, cada um dos novos textos que escrevo acaba por tentar ser e sempre, também mais uma estrela no desejo que, inesgotável, se materialize em nova tentativa de a ti te chegar e responder conforme o saiba, pressinta que deva fazer.
Ao encontro das estrelas ...
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São tantos os porquês
Do teu silêncio
Que guardo do que vês
Nocturno imenso
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 3 de Maio de 2009
4 comentários:
111
Cheguei à página cento e onze.
Bonito número:
Capicua, três unidades!
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 3 de Maio de 2009
E eu cheguei na capicua, para sentir a sorte que é estar aqui neste texto tão belo e generoso.
Há sempre na vida dos outros tantas razões, há sempre um mundo tão imenso e carente à nossa volta que é impossível não as compreender, às razões.
Amanhã quero voltar a reler este texto e ouvir a música, porque a minha razão hoje, mesmo não qurendo, é que cheguei tão tarde que já não me sinto capaz de apreciar devidamente e com os sentidos bem despertos o cuidado texto e respectiva associação musical.
Boa noite, Jaime.
Beijos
TANTAS RAZÕES
Há tantas razões quantas as interacções, conexões que se desencadeiem, quantas até, que não se expressam ou explicitam senão noutras direcções.
O silêncio contém tanta coisa ...!?
O que é é que é impossível abarcá-lo por inteiro como um Nocturno de Chopin tão denso de tanta palavra não dita como a saudade que não se define ou uma enxurrada de desejos por realizar e que apenas se tentam vagamente abarcar, tocar no brilho cristalino que as estrelas projectam no firmamento claro e fugidiu, que se apaga numa aurora ...
Venha, Brancamar e releia o que aqui deixei, e reaja noutra disposição que não esta, a do cansaço de uma madrugada tão nocturna!
Boa semana, para Si e para todos, um beijinho
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 4 de Maio de 2009
ESCURIDÃO OU BRILHO
Eu podia sublinhar a ofuscação, a escuridão ou o brilho das estrelas.
Podia frisar as carências, as imensas desgraças que nos cercam e que não há como rodeá-las nem tal se me afigura ou pretendo ou sublinhar o brilho, a luminescência, o belo que nos cerca e que tende a ser ofuscado pelas primeiras.
Opto e no entanto, pelo brilho ...!
Sem deixar, quando necessário, de apontar as primeiras ou denunciá-las quando entenda oportuno ou necessário.
Se não acrescentarmos luz à luz, que será dela neste imenso vale de lágrimas!?
Que respiração adicional aduziremos como suplemento de alma que aos outros os ajude, possa ajudar a respirar melhor!?
Que possa ajudar, aos outros, a reunir as forças bastantes que lhes permitam levantar a cabeça e prosseguir, a reuni-las porque elas estão lá, em todos e ainda que recobertas de camadas e camadas de desespero, de sofrimento incontido!?
Eu podia ter optado por chorar as minhas tristezas que as tenho, as minhas desventuras ou aparentes becos sem saída que me assolam, afligem e constrangem mas não o faço.
Se eu iluminar o meu túnel ou caverna, talvez lhe encontre uma saída mas se, pelo contrário, o adensar em maior escuridão, nem me ilumino a mim e muito menos aos outros que de um suplemento de luz necessitam e quantas vezes sem que tenham sequer as forças bastantes para a vislumbrarem e ainda que muito vagamente.
Porque estou em condições de fazê-lo, opto, portanto, pela luz que também se traduz em Arte e na sublime arte de viver!
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 4 de Maio de 2009
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