sexta-feira, 15 de maio de 2009

PARA ALÉM

Há uma pobreza incapaz de ver para além dos números ou da sua própria ostentação e ganância;
Há uma pobreza incapaz de olhar para além da politiquice vã na cobiça dos seus próprios interesses particulares e mesquinhos;
Há uma pobreza redutora, incapaz de admitir para além do seu saber específico, convencida que vive na superioridade inabalável das suas graduações que aos outros saberes lhes fariam sombra ou dispensariam de todo;
Há uma pobreza que vive agarrada ao seu estatuto e lugares, incapaz de se dar para além daquilo que tem e que julga seu, vitalício.
Há uma pobreza que não é capaz de sair para além da sua sobranceria aparentemente escudada em abertura, em suposta entrega também.
Há uma pobreza, porém, que é rica:
A que sofrendo anima;
A que cantando, pela Poética e como um mar, transvasa e irriga o Mundo;
A que não tendo dá e dá-se sem regatear e mesmo se, aparentemente, os outros dela fazem orelhas mocas;
Há uma pobreza que é rica, riquíssima e para além de tudo o que possa não ter e pareça ser.
-
-
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 15 de Maio de 2009

Sem comentários: