III - CORAÇÃO SOLITÁRIO CAÇADOR
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O Violinista de Cristal
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O Violinista morava numa grande e barulhenta cidade, onde as pessoas pareciam sempre tristes, cinzentas e apressadas. De manhã saíam de casa já cansadas depois de uma luta com o despertador, com os cereais do pequeno almoço, com a lista das compras que teriam que fazer à noite e com as birras dos filhos que também já acordavam irritados e resmungões.
Não davam os bons dias umas às outras e muito menos as boas noites, saíam de casa a correr e como formigas apressadas enfiavam-se em comboios, autocarros, metropolitanos, túneis, viadutos e circulares.
O Violinista era um homem bom e solitário que amava o seu violino e as suas músicas e gostava de as partilhar com as outras pessoas. Muito magro e alto parecia que se partia a cada movimento e quando amorosamente segurava o arco do violino, as pessoas diziam:
"Este violinista é feito de cristal!"
E todos os dias ele saía de casa de manhã cedo com o seu violino e dirigia-se à estação dos comboios, escolhia o local mais barulhento e apinhado de gente e começava a tocar.
E pensava:
Não davam os bons dias umas às outras e muito menos as boas noites, saíam de casa a correr e como formigas apressadas enfiavam-se em comboios, autocarros, metropolitanos, túneis, viadutos e circulares.
O Violinista era um homem bom e solitário que amava o seu violino e as suas músicas e gostava de as partilhar com as outras pessoas. Muito magro e alto parecia que se partia a cada movimento e quando amorosamente segurava o arco do violino, as pessoas diziam:
"Este violinista é feito de cristal!"
E todos os dias ele saía de casa de manhã cedo com o seu violino e dirigia-se à estação dos comboios, escolhia o local mais barulhento e apinhado de gente e começava a tocar.
E pensava:
"Se eu conseguir que as pessoas me vejam e parem um pouco para me ouvir, tenho a certeza que se sentirão mais felizes e eu sentir-me-ei menos só."
No entanto apenas uma ou outra virava a cabeça e rapidamente retomava a correria habitual.
E o violinista tornava a pensar:
"Se uma pessoa parar, apenas uma e eu fizer com que ela me escute, já terá valido a pena".
Às vezes uma menina pequenina parava e ouvia a música e puxava a mão da mãe e dizia:
No entanto apenas uma ou outra virava a cabeça e rapidamente retomava a correria habitual.
E o violinista tornava a pensar:
"Se uma pessoa parar, apenas uma e eu fizer com que ela me escute, já terá valido a pena".
Às vezes uma menina pequenina parava e ouvia a música e puxava a mão da mãe e dizia:
"Que lindo!". A mãe compreendia como era belo o som do violino e desejaria ficar por ali a escutar, mas como o comboio não esperava por ela, arrastava a menina pela gare fora.
Os dias passavam e o Violinista foi ficando mais triste e frágil e de cada vez que tocava sentia uma dor aguda, umas vezes num dedo da mão, outras num dedo do pé ou na cabeça e um pedacinho de si quebrava-se e caía ao chão. Ficava ali a brilhar como um cristal. Apenas a menina reparava e todos os dias apanhava os pedacinhos de cristal, escondia-os no bolso e em casa guardava-os carinhosamente numa caixinha.
E um dia o triste e solitário Violinista não apareceu mais. Ninguém notou, apenas o chefe da estação disse:
"Parece que falta aqui qualquer coisa!".
As pessoas apressadas sentiram uma sensação estranha, como se tivessem esquecido alguma coisa e pensaram:
Os dias passavam e o Violinista foi ficando mais triste e frágil e de cada vez que tocava sentia uma dor aguda, umas vezes num dedo da mão, outras num dedo do pé ou na cabeça e um pedacinho de si quebrava-se e caía ao chão. Ficava ali a brilhar como um cristal. Apenas a menina reparava e todos os dias apanhava os pedacinhos de cristal, escondia-os no bolso e em casa guardava-os carinhosamente numa caixinha.
E um dia o triste e solitário Violinista não apareceu mais. Ninguém notou, apenas o chefe da estação disse:
"Parece que falta aqui qualquer coisa!".
As pessoas apressadas sentiram uma sensação estranha, como se tivessem esquecido alguma coisa e pensaram:
"Terei desligado o gás?"
A menina sentia saudades da sua música e da sua presença e todas as noites, antes de adormecer, abria a caixinha dos cristais acariciava-os com a sua mão pequenina e contava-lhes as histórias que inventava. Depois, deixava a caixinha aberta, para que o brilho que emanava se espalhasse pelo quarto e a fizesse sentir segura e acompanhada.
Uma noite, qualquer coisa a despertou suavemente e a menina ouviu baixinho o som de um violino, e o som foi ficando mais forte e foi-se espalhando, primeiro pelo quarto, depois pela casa toda e cresceu como um rio e derramou-se pela cidade, pelas ruas, pelos parques, pelos túneis do metro, pelas igrejas e por todos os edifícios.
Rapidamente a menina percebeu que o som vinha da caixinha entreaberta, sorriu e disse:
A menina sentia saudades da sua música e da sua presença e todas as noites, antes de adormecer, abria a caixinha dos cristais acariciava-os com a sua mão pequenina e contava-lhes as histórias que inventava. Depois, deixava a caixinha aberta, para que o brilho que emanava se espalhasse pelo quarto e a fizesse sentir segura e acompanhada.
Uma noite, qualquer coisa a despertou suavemente e a menina ouviu baixinho o som de um violino, e o som foi ficando mais forte e foi-se espalhando, primeiro pelo quarto, depois pela casa toda e cresceu como um rio e derramou-se pela cidade, pelas ruas, pelos parques, pelos túneis do metro, pelas igrejas e por todos os edifícios.
Rapidamente a menina percebeu que o som vinha da caixinha entreaberta, sorriu e disse:
"Boa noite Violinista!", virou-se e voltou a adormecer profundamente.
As pessoas cinzentas mexeram-se nas suas camas e nessa noite sonharam com um violinista de cristal que tocava para elas e que lhes tocava os corações com a sua música. E todas as noites passaram a dormir descansadas e felizes.
E nas manhãs cinzentas, as pessoas solitárias e cinzentas começaram a pouco e pouco a mudar de cor, a não terem tanta pressa; achavam piada perder o autocarro, descobriram que a cidade estava cheia de pássaros e que estes cantavam e voavam.
As pessoas cinzentas mexeram-se nas suas camas e nessa noite sonharam com um violinista de cristal que tocava para elas e que lhes tocava os corações com a sua música. E todas as noites passaram a dormir descansadas e felizes.
E nas manhãs cinzentas, as pessoas solitárias e cinzentas começaram a pouco e pouco a mudar de cor, a não terem tanta pressa; achavam piada perder o autocarro, descobriram que a cidade estava cheia de pássaros e que estes cantavam e voavam.
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O segredo do Violinista de Cristal só foi contado muitos anos mais tarde pela menina pequenina, quando deixou de ser pequenina e se tornou primeiro violino da orquestra da cidade cinzenta que deixara há muito de ser cinzenta.
Celebrando:
"The Heart is a Lonely Hunter", Coração, solitário caçador (1968) - realizado por Robert Ellis Miller
Música: Dave Grusin
"The Glass Menagerie", Jardim Zoológico de Cristal (1987) -
realizado por Paul Newman
"Morte em Veneza" (1971) -
realizado por Luchino Visconti
Música: Gustav Mahler
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Manuela Baptista
Estoril, 9 de Maio de 2009
Manuela Baptista
Estoril, 9 de Maio de 2009
17 comentários:
DIFERENTE
Diferente é ser-se igual
sem ter em mente
vontade de igualar
o que é diferente
Manuela,
Amo-te muito
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 9 de Maio de 2009
Querida Manuela,
Estou deslumbrada com esta bonita história do violinista de cristal, e com o vídeo de "The glass Menagerie", volto pelo serão para reler, para rever o vídeo e tomar apontamentos para procurar estes filmes que não vi, apesar de ser uma apreciadora de bom cinema e uma grande admiradora dos realizadores aqui citados. Exceptuando "Morte em Veneza" não conhecia as outras obras citadas e este vídeo deixou-me uma curiosidade enorme para ver "The glass Menagerie", adoro tudo o que chame a atenção para a diferença, para a individualidade de cada um, para o belo, tudo o que ajude a quebrar a alienação de uma sociedade normalizada por padrões muito estabelecidos.
Por isso volto, volto para me encontrar de novo com este casal extraordinário que vós e que tanto de belo nos transmite.
Beijos para os dois.
Branca
Corrijo "...este casal extraordinário que vós sóis...". Falhou-me "sóis", peço desculpa.
Obrigada Branca!
O filme "The heart is a lonely hunter" foi inspirado no romance de Carson McCullers(escritora Americana) e conta a história de um jovem surdo.
As imagens disponíveis eram muito más,mas no you tube existe um vídeo com o início do filme e com o belo tema musical que o acompanha.
Quanto a "The Glass Menagerie" é um dos filmes mais bonitos que eu já vi e com actores extraordinários. Espero que o encontre em DVD porque o computador é demasiado pequeno para ele.
Ou então leia a peça de teatro de Tennessee Williams, com o mesmo nome.
Obrigada pelos Sóis, mas não somos assim tão brilhantes...
Beijinhos
Manuela Baptista
Filomena,
a menina está
apaixonada
doente
ou zangada?
Ou precisa de uma caixinha cheia de... (?)
Manuela Baptista
Boa noite,
Magistralmente escrito( como sempre)
Tantas são as vezes que não queremos ouvir o bater do "cristal" dentro do peito.
Beijinhos
Filomena
Ah, que coisa interessante a vida é!
Eu deixar o comentário e a Manuela a falar comigo!
Realmente!
Estou triste e apaixonada. Não, não estou zangada.
Um beijinho
Filomena
ANA CRISTINA
E a menina, por onde é que anda?
Está farta de nos aturar!?
Foi dar uma volta!?
Veio até Cascais e não nos diz nada!?
Hello!!!
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 9 de Maio de 2009
FILOMENA
Querida Amiga,
Às vezes ... como dói a paixão ...!
Um beijinho
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 9 de Maio de 2009
Filomena,
é também por ser "triste e apaixonado", que o coração é um caçador solitário.
Beijinhos
Manuela Baptista
Manuela,
Mais uma gafe minha, veem como não ando bem? Obrigada pela lição, tenho que corrigir novamente, mas apesar de escrever mal sois em termos verbais, era o subconsciente a puxar-me para a verdade, pois realmente sois dois sóis que brilham como aqueles cristais do violinista e nos trazem algo de bom e diferente.
Beijinhos de boa noite.
Branca
ACENTO CRISTALINO
Como um mar
de branca cor
cristalino
como o amor
( à Branca )
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 10 de Maio de 2009
Com um beijinho de Bom Dia
no cinzento chuviscoso
de Maio
que torna as meninas
bonitas e airosas
para que vejam o Sol
mesmo apagado
um pouco zangado
Já o efeito da chuva de Maio sobre os cavalheiros, não sei bem...
Eles que se pronunciem.
Manuela Baptista
Queridos amigos,
Que bom começar um Domingo com a vossa boa disposição e sensibilidade poética!
Beijinhos
Branca
SÓIS
Nós, minha querida, ficamos que nem sóis, pedacinhos de cristais irradiantes ... hilariantes também!
Falo por mim, claro.
Jaime Latino Ferreira
$Estoril, 10 de Maio de 2009
Olá Jaime e Manuela
Vou passando por aqui e lendo histórias de encantar,de música, pessoas, cristais e sonhos.
Eu não tenho é pedalada nem energia para acompanhar o vosso ritmo!!!!
Mas vou estando a par e sorrindo com os desafios que por aqui são deixados.
A semana da queima das fitas da minha filhota, deixou-me a nostalgia de a lembrar nos meus braços qual violinista de cristal.
Agora que o cristal brilha e já arranja sem ajuda os cereias da manhã, fica uma sensação de passagem entre margens que pareciam distantes e de repente se juntaram inexplicavelmente.
Tal como na cidade apressada da história da Manuela,a menina cresceu...será que nos seus sonhos se lembra dos braços que a embalaram ;)
Para além da nostalgia,continua por resolver um dente rebelde que teima em dar luta, uns exames médicos que ainda não estão marcados,uma receita médica não aviada na farmácia,sono em atraso por noites inquietas ... e... um cartão do cidadão à espera de ser levantado,a inspecção do carro no mês que vem e o ar condicionado que não funciona,a confirmação do recenseamento eleitoral.......
Quem é que cuida de ti Nini?
Cuido eu mesma,David.
Então cuidas mal.
Pois cuido...!
Nada de inquietudes.
Nada de homores depressivos.
Eu sei que parece.
Mas não é.
Falta pouco para me convencer que sou capaz de pôr tudo em ordem, ou pelo menos ir levantar o cartão do cidadão e ver onde vou votar nas eleições, rsrsrssr !!!!
Isso sem falta.
Porque já não se aguente ;)
Vá,contem-me histórias e ponham música a tocar.
Eu vou fazer um "brownie" de chocolate para comer com a Diana ao lanche.
Foi ela que sugeriu:
"Mãe,apetecia-me algo..."
O que não faz uma mãe por um filho(a)!?
Saudades.
(Alguma vez eu iria a Cascais e não vos dizia?
Ai,Ai, Jaime!)
Beijinhos da
Ana Cristina
Aqui não chove,nem chuvisca
Só nuvens no céu que vão passando com a pequena brisa.
Ana Cristina,
E estavamos nós aqui sem saber o que lanchar!Tudo o que tenha chocolate é bem vindo...
Como vê, as filhas doutoras continuam a pensar nas mães e a precisar delas.
Ainda bem que hoje é domingo, porque com essa lista de afazeres é melhor meter férias. E continue a cuidar de si e nós todos aqui a fazer uma força!
Quanto à pedalada tem toda a razão, apesar da promessa do Jaime em apanhar um comboio que pare em todas.
Aliás venha cá daqui a pouco e verá.
Muitos beijinhos para si e para a Diana e ânimo para a semana que aí vem.
Manuela Baptista
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