terça-feira, 26 de maio de 2009

IMPREVISÍVEL RETORNO

http://www.youtube.com/watch?v=uGAxAM5p0Qs
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Quando escrevo
matéria sonhada do real
ou realização do sonho
eu não sei
as reacções que desencadearei
e como
de volta
as receberei
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Elas são
por isso
sempre imprevisíveis
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Quando esperaria o riso
provoco o choro
se o aplauso
eventualmente
imenso silêncio
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Sei
no entanto
que num mesmo texto
ao ler e reler aquilo que escrevo
as minhas próprias reacções divergem
podem ir do choro ao riso
do silêncio à musicalidade transbordante
ao entusiasmo do aplauso íntimo
assim o leia agora ou depois
de manhã ou à noite
e em função do meu próprio humor
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Sei
portanto
que o retorno variará até ao inesperado do sonho
que
quantas vezes encontro
ao reler o que escrevi
logo à primeira
como à centésima vez
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Sei
finalmente
que nunca desperdiço aquilo que escrevo
e que cada vez mais o faço
directo
no suporte definitivo
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Depois
na ausência que se instala
descanso
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 26 de Maio de 2009

2 comentários:

manuela baptista disse...

Noite e Sonhos

Linda música!

Na ausência que se instala descanso...

Boa noite

Manuela Baptista

jaime latino ferreira disse...

MANUELA


Repego a pergunta que fazes na última caixa de comentários.

Reza assim:

" Quem pode saber, em que se tornaria um sonho adormecido se tivesse sido realizado? "

Quando escreves uma história como a que contaste, uma reflexão que seja ou um poema estás a realizar, escrever é realizar, um sonho adormecido.

Em que é que ele se torna?

Tu, ao realizá-lo vais-te também realizando e logo, materializando o sonho que escreveste e em quem te leia, por seu lado, o sonho vai-se percutindo nos variáveis cambiantes que, eles também, te fornecem um retorno que ao sonho o vai relevando cada vez mais.

Todos nós somos testemunhas daquilo em que os sonhos adormecidos se tornam à medida que se vão realizando e lá que se vão, vão!

Em rigor, a realidade seria irreconhecível não fôra a progressiva e imprevisível realização daquilo em que os sonhos nos transformam.

E como a ausência é tardia e quero ir buscar a companhia dos sonhos, vou-me também deitar, boa noite


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 26 de Maio de 2009