Uma noite um Peixe-Lua cansado de nadar, veio dar a uma praia de conchas e areia fina.
Soprava um vento frio e o Peixe para se aquecer acendeu uma fogueira, com muito cuidado, para não grelhar as suas próprias barbatanas e ali ficou a brincar com a areia quente e com as conchas, a fazer uma espécie de bolas de sabão, mas que não eram de sabão, eram bolas de vidro brilhante e transparente.
O Peixe-Lua sabia que tinha talentos, mas fazer bolas de vidro foi uma revelação! As bolas de vidro subiam pelo ar levadas pelo vento, umas em direcção ao mar, outras pela terra dentro. O peixe pensou:
”Será que algum pescador as descobre e as captura nas suas redes, como se fossem peixes como eu? Será que algum menino as cobiça e joga com elas como se fossem um brinquedo?”
Adormeceu docemente com a música crepitante da fogueira e assim não viu uma menina pequenina espantada com aquela noite especial, que em vez de estrelas lhe oferecia uma linda e redonda bola de vidro!
A menina, além de pequenina também era um pouco triste. Às vezes, os adultos não a compreendiam muito bem e diziam:“Cada vez está mais bonita esta menina, mas é tão estranha!”
A bola era tão grande e maleável que a menina não teve dificuldade nenhuma em entrar nela e disse:
“Esta bola vai ser a minha casa secreta! Aqui guardarei os meus tesouros, aqui posso esconder-me dos meus irmãos, quando eles me baterem ou me puxarem os cabelos ou quando quiser faltar à escola”.
E todas as noites a menina viajava na sua bola de vidro, espreitando o mundo sem que ninguém a visse mas vendo tudo e todos com a nitidez das manhãs antes da chuva.
Nela guardava as coisas boas que possuía, as recordações que ia acumulando e que assim não se perderiam nunca e jamais seriam esquecidas.
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Ao Jaime digo,
a Matéria dos Sonhos também é a memória das coisas e das pessoas que mantemos vivas. Este texto foi escrito e dirigido à Isabel Venâncio a propósito da sua página "Dualidades",por isso pertence-lhe. Mas a matéria dos blogues também tem a sua dualidade, eles são como a menina, um pouco estranhos...
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Manuela Baptista
Estoril, 27 de Maio 2009
7 comentários:
E O PEIXE SONHAVA
E se não fosses tu a pôr um peixe a sonhar que era uma bonita menina dentro de uma bola de vidro feita de palavras, matéria do sonho (!) e memória das coisas e das pessoas que mantemos vivas, nem a Isabel Venâncio nem eu, muito menos aqueles todos que nos lêem, ficaríamos a conhecer a bonita história que dá pelo nome de O Peixe-Lua e a Menina Estranha.
Obrigado, minha querida
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 27 de Maio de 2009
CAROS LEITORES
Desta vez, publiquei o conto de minha mulher, completamente à sua revelia:
Escolhi imagens, bem sei que não se trata de um peixe-lua mas é simpático e que as bolas não são de vidro mas de sabão e escolhi, também, a música, a secção dos peixes do Carnaval dos Animais.
Só no fim a chamei e lhe mostrei a minha ousadia!
Pela reacção, parece-me que não ficou desagradada.
Voilá, quem não arrisca não petisca ...
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 27 de Maio de 2009
Manuela e Jaime
A história e as imagens que a ilustram nesta página deixam-nos encantados, deixam-nos a sonhar.
É pelo sonho que vamos!
Parabéns aos dois!
Beijinhos.
Ana Cristina
ANA CRISTINA
Que bom lê-la ( ouvi-La, senti-La, pressenti-La ... sonhá-La )!
Obrigado e um beijinho no sonho e pelo sonho
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 27 de Maio de 2009
Tanto Mar
Está bonita a página pá fiquei contente
enquanto estive ausente
mandei um peixe para ti!
(não te zangues Chico, que muitas vezes me tens inspirado...)
O Peixe-Lua continua a dormir, porque se acordar, a bola de vidro quebra-se e a menina desaparece.
Obrigada Ana Cristina, esta construção metafórica e imaterial também era para si.
Beijinhos
Manuela Baptista
!?
... imaterial uma ova, ova de peixe!!!
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 28 de Maio de 2009
FILOMENA
E as aferidas ...!? Venha daí com elas para esta praia!
Beijinhos de boa noite
Manuela Baptista
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