segunda-feira, 4 de maio de 2009

O PINTOR E O POETA

O Pintor morava numa casa baixa e pequena, cheia de janelas, com uma porta larga e um alpendre, no meio de um vale verde atravessado por um ribeiro que cantava. A casa tinha apenas um andar e por cima um sótão, de onde se avistava toda a aldeia e a única formação montanhosa das redondezas.
O Pintor era um homem feliz e gostava da luz da manhã para pintar os seus quadros, saía cedo, mal os pássaros acordavam, pegava nas tintas, nos pincéis e no cavalete e saía a assobiar por aí fora. Parava onde a luz falasse mais alto e pintava as ervas e as flores, as árvores e o rio, as casas dos seus vizinhos, os muros dos quintais, as telhas dos telhados, as crianças no recreio da escola, e aquele monte lá ao fundo solitário e estranho. Às vezes pensava: “ Quem morará naquela casa lá no alto, tão alta, tão longínqua?”
Também gostava dos entardeceres em que o Sol chamejava no horizonte e a calma era tanta que o Pintor se comovia e os seus quadros reflectiam aquele momento em que tudo parece parar e a vida suspende o seu curso. Por isso quando a noite chegava, o Pintor sentia os olhos cansados de tanta cor e ia cedo para a cama e sonhava com tintas, lápis e pincéis.

O Poeta, morava numa casa alta no cimo de um monte, íngreme e ventoso. De um lado avistava o vale verde e a aldeia, do outro o mar imenso e os rochedos lá em baixo precipitados em descida perigosa. A casa era grande, com muitos quartos e salas e tinha à sua volta um jardim onde as flores tinham dificuldade em crescer por causa do vento e do ar marinho.
O Poeta era um homem inquieto, gostava da noite e do mistério das estrelas, gostava do uivar do vento e das noites de tempestade. E era no silêncio das noites e diante de uma enorme janela virada para o mar, que o Poeta escrevia, sobre a tristeza e o amor, sobre a beleza e a inquietação, sobre a morte e sobre a vida. Às vezes ao entardecer, percorria a casa e da janela virada para o vale tão verde, dizia para consigo: “Quem morará naquela casa lá tão em baixo, tão pequena e com tantas janelas?”.
Mas rapidamente escurecia e ele esquecia-se desta questão.
E assim o Poeta, toda a noite escrevia e quando amanhecia estava feliz mas exausto, adormecia pesadamente e sonhava com versos, estrofes e histórias de amor.
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Um dia, por uma qualquer razão desconhecida, o Pintor acordou tarde e sem vontade de pintar. “Estarei doente?” pensou. Mas não tinha febre e também não lhe doía a cabeça, por isso não se preocupou e resolveu aproveitar o dia de outra forma. Limpou os vidros, fez um bolo de chocolate, regou as flores do jardim e cantou uma ária da Flauta Mágica enquanto tomava banho. Depois de tudo isto e como já era tardíssimo resolveu dar um passeio com as mãos a abanar, ou seja sem cavalete, sem tintas e pincéis.
Nesse mesmo dia, por uma qualquer razão ainda mais desconhecida, o Poeta acordou cedíssimo e sem vontade nenhuma de escrever. “Devo estar doido! Como é que é possível acordar assim tão cedo e ainda por cima bem disposto?”
Aproveitou então para aspirar o pó das estantes, arrumar os livros, arrancar as ervas do jardim e como ainda era cedo calçou uns sapatos de passeio, vestiu uma camisola e saiu pelo monte abaixo a assobiar.
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Era aquele momento do entardecer, logo após o pôr do sol, em que ainda não é noite mas também já não é dia; o tempo parece suster a sua marcha e há uma quietude no ar como uma promessa por cumprir, como um quadro por pintar, como um livro por escrever.
O Pintor subia e o Poeta descia e nesse instante cruzaram-se os dois a assobiar. E apresentaram-se: “ Eu sou o Pintor”, “Eu sou o Poeta”.
E andaram por aí e conversaram e falaram do dia e da noite, dos vagueares nocturnos e dos brilhantes dias. Do monte e do vale, do ribeiro cantante e do mar tormentoso.
A noite chegou e as estrelas piscaram e o Pintor convidou o Poeta para visitar o vale e a sua casa e comeram bolo de chocolate até de madrugada.
A partir daí, o Pintor aprendeu a desenhar estrelas e a não ter medo das coisas da noite e o Poeta aprendeu a cantar o dia, não se ofuscando com o brilho do sol.
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Manuela Baptista
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( ...de como os nocturnos cantos encontram o brilho dos dias... )
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Estoril,4 de Maio de 2009

8 comentários:

Jaime Latino Ferreira disse...

JUSTIFICAÇÃO


Arranjar uma ilustração que, ainda que implicitamente, sugerisse o pintor, não foi lá muito fácil ...

Menos custou o poeta!

Casa grande no alto, pequena no vale, montanhas longíncuas, um rio escarpado e o mar, tudo junto, apenas ao mar se omitiu embora se possa imaginar que da casa grande, eventualmente, ele poderá ser perceptível ...

Quanto à música, se descreve os quadros expostos numa exposição, feitos pela mão do artista ela é, em si mesma, poesia!


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 5 de Maio de 2009

Jaime Latino Ferreira disse...

ANA CRISTINA


Querida Amiga,

Transmiti os Seus recados a minha mãe que, ela também, Lhe manda beijinhos de volta.


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 5 de Maio de 2009

Jaime Latino Ferreira disse...

ANA CRISTINA


Babadíssima Amiga,

( ... )

Se vivessemos na escuridão permanente quais toupeiras,correríamos o risco de cegar se nos confrontássemos com um efémero raio de luz.

Em oposto se vivessemos no limiar absoluto do brilho qual Ícaro,acabaríamos por nada ver,ofuscados pela luz.

( ... )

Resolvi citá-la da caixa de reflexões anterior.

Já viu que o que escreve nestes dois parágrafos não os situa nos antípodas um do outro e já que não há brilho como escuridão absolutos!?

Não os situa porque em ambos os casos o resultado seria o mesmo, a cegueira!?

Qual negação da negação sem margem para a afirmação e resultando em mais negação!?

O pintor como o poeta trabalham com a mesma matéria, a matéria a que chamaria luz ou brilho que num caso, o do pintor se exprime visualmente pela forma e pela cor e no outro, o do poeta, se se exprime pela escrita que é, igualmente, do âmbito da vista, do que se vê, não prescinde do som, do que se ouve e que não tem de, necessariamente, ver-se mas que aprofunda aquilo que, estritamente, se vê!?

E que, complementares que são, na história eles acabam por se completar pelo dia e pela noite, um ao outro, ambos feitos de luz e sombra, não há como escamoteá-lo sob pena de se transformarem em Ícaros(!), acabam por concorrer no brilho acrescentado, feito de luz e sombra, que criam!?

( ... )

o Pintor aprendeu a desenhar estrelas e a não ter medo das coisas da noite e o Poeta aprendeu a cantar o dia, não se ofuscando com o brilho do sol.

( ... )

Sou pintor poeta, modéstia à parte, e sublinho o brilho na certeza porém de que como poeta pintor não escamoteio a sombra nem o poderia fazer mas enfatizo o primeiro!

Eu até canto a sombra ...!

Ainda hoje está por provar o contrário do que eu afirmo em hipótese, isto é, que atravessamos um Buraco ou Estrela Negra que se absorve a luz, a energia, nela luz acrescida ou brilho se gera!

Se pode gerar ...!

Há muitos anos que bati no fundo como se costuma dizer e sei muito bem o que é a escuridão sem o escamotear nem esquecer ...!

Também por isso logo tenho a obrigação ética de puxar para cima, de enfatizar a luz, de exaltar o brilho sem os quais nos extinguiremos na escuridão absoluta.

A escuridão não mobiliza, o brilho talvez ...!

Minha Querida Amiga.

É este o ponto de equilíbrio, um ponto que tem de ser positivo e logo ter brilho, como o escrevia atrás.


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 5 de Maio de 2009

manuela baptista disse...

Os Meninos do 5º A,

têm muita sorte em ter uma Professora de Português, que ainda os embala com histórias e não tem medo de os Educar e Instruir utilizando a matéria do Faz-de-Conta, que é assim um pouco como a matéria dos sonhos.

O Pintor e o Poeta é uma metáfora, composta pela matéria dos textos do Jaime e não diz respeito a situações pessoais; também pode ser malandreca se a Ana Cristina quizer, ou outra coisa qualquer...

Devo dizer que estou apaixonada pelos dois, e vou desenvolver mais a história e ilustrá-la com desenhos e pinturas.

Bora fazer um bolo de chocolate?

Manuela Baptista

jaime latino ferreira disse...

MANUELA


Bora!!!

Até me babo, se a Nini me o não levar a mal ...

Hmmmm!


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 5 de Maio de 2009

Jaime Latino Ferreira disse...

NOTA


Concluíram-se agora, seiscentas consultas ao meu perfil!

Que significado se lhe poderá atribuir, nomeadamente na relação com as visitas que este meu blogue já leva e que não consigo contabilizar!?


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 5 de Maio de 2009

manuela baptista disse...

Da Filomena, recebido com muito carinho:

"À terça-feira não dou aulas de tarde mas, como as 3ª e 6ª são os dias em que dou aulas aos Meninos do 5º A e, como apanhei feriados e dias de Departamentos, atrasei-me um bocadinho nas aulas. Por isso, pedi aos colegas de Estudo Acompanhado para me deixarem ocupar os 90` da tarde com a minha disciplina.
Pedido aceite.
De manhã estive com os Meninos, dei-lhes o meu bloco e avisei-os que da parte da tarde lá me iam aguentar mais 90`... mas... mas... tinha um presente para eles..

E os Meus Meninos ficaram felizes. Porque gostam da Professora, porque gostam da disciplina e porque gostam de presentes.

E estava calor e eram 15 horas e elas estavam um bocadito inquietos, um poucochinho rabujentos. Lá se foram calando e eu comecei por lhes dizer que o presente não era meu, era de uma Senhora que, já tinha cuidado de Meninos um bocadinho mais pequenos que eles, e disse o nome da Senhora e contei-lhes com a tinha "conhecido".

Eles ouviam. Os olhitos atentos, as boquinhas abertas.

Comecei a ler. Com a entoação devida, com a musicalidade das palavras, com a alma e com o coração.

E quando acabei, olhei-os. Eles estavam com um ar de sonho nos olhos, com sorrisos lindos. Bateram palmas. Quiseram o texto para eles e o Luís, disse com voz calma e grave:
- Ó professora, que sorte que tem em ter Amigas assim e que sorte a nossa por nos ter lido a história. Essa história foi o melhor bolo de chocolate que comi. Obrigado-

Estava tudo dito.


Beijinhos


Filomena"

Manuela Baptista

Anónimo disse...

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